Por que o Catarina sofre há tantos anos com as enchentes?

Pavimentação sem estudos agravam a situação ao longo dos anos .

Atualizado em 19/05/2025 às 18:05, por Samara Oliveira.

Por que o Catarina sofre há tantos anos com as enchentes?

Pavimentação sem estudos agravam a situação ao longo dos anos

Por Pitter Mendes, morador do Jardim Catarina, professor e historiador 

Durante as pesquisas sobre o surgimento do Jardim Catarina e o resgate de sua identidade, muitas curiosidades puderam ser esclarecidas, como por exemplo a questão das enchentes que tanto assolam o bairro durante décadas. Em um a planta de situação produzida em 1949 pela empresa que loteou a fazenda dividindo os lotes e abrindo as ruas, alguns aspectos da região foram nomeados para poderem se localizar enquanto faziam as obras. Existiam nessa planta arquitetônica referências da fazenda como: casa em ruína, fonte de água,horta de abacaxi, estrada da Ipuca, área do charco, entre outras. Todos os nomes dessas áreas são importantes para compreender a história do Jardim Catarina, mas é a chamada “área do charco”, que você precisa ficar atento para entender o histórico de enchentes no bairro.

A casa em ruína era a casa do antigo proprietário da fazenda Boa Vista do Laranjal,Júlio Lima, que hoje ficaria na direção da Escola Municipal Estephânia de Carvalho do outro lado da rodovia. O local de nome fonte de água encontra-se onde hoje chamamos de Laguna (Rua 9, próximo a CEDAE) nome esse que faz referência ao lençol freático existente naquele trecho na época. A horta de abacaxi situava-se na altura onde se encontra hoje em dia o colégio Trasilbo Filgueiras. A estrada da Ipuca não passava de um pequeno caminho estreito de terra entre plantações, pomares e mato; na época, chamavam esse tipo de caminho de “picada”.

Esse caminho, ou picada, ligava os fundos da fazenda, que então não era tão explorado quanto o restante devido à distância da Rodovia Norte Fluminense — hoje, rodovia Amaral Peixoto RJ-106 — até as terras do local chamado Guaxindiba, onde já funcionava a todo vapor, desde a década de1920, a fábrica de cimento Mauá, onde hoje está o presídio Patrícia Acioli.

E finalmente a área do charco, que significa um local encharcado, onde existem porções de água estagnada ou um terreno lamacento. Essa área seguia às margens do Rio Guaxindiba, hoje rio Alcântara, beirando onde hoje existe a Rua Francisco Muniz, antiga Avenida Beira Rio, desde a rua Adelaide lima (rua 1), até o manguezal na altura da Rua a Ouro fino, a rua 35. Ou seja, toda região da fazenda que margeava o leito do rio na época de área rural, já existia na mesma um alagamento específico do transbordamento do rio em dias de grandes volumes de chuva.

Baixada, Pica Pau, Guacha e Ipuca são as ‘Áreas de Charco’

As propagandas e comerciais do início das vendas dos lotes no Jardim Catarina,mostram que os lotes dessas áreas alagadiças possuíam preços bem menores que o restante de lotes situados nas áreas fora dessa faixa de terras. E depois como loteamento, os mais antigos moradores lembram que nessa época já existiam enchentes,contudo apenas quando o rio transbordava. Essas enchentes se agravaram a partir da década de 1990 com a pavimentação eu urbanização do loteamento. Toda essa área após a criação do loteamento ficou sendo chamada de Baixada, Pica Pau, Guacha eIpuca.. Essas regiões de baixada do bairro,não tiveram uma avaliação cuidadosa em relação à existência do rio já assoreado e o aumento de casas e consequentemente da população, durante as obras de pavimentação na década de 1990. Ou seja, não consideraram corretamente os impactos futuros do rio assoreado, o que resultou em enchentes catastróficas, contaminação e um longo espaço de tempo no escoamento da água.

Percebemos então que o problema das enchentes não é algo só dos dias atuais,ainda quando era fazenda já existiam as enchentes, contudo com bem menos intensidade.

O que de fato agravou esse problema com o passar do tempo foi o progresso e modernização acompanhados do descaso do poder público com essas questões desde antes do loteamento. Muitas dessas obras de pavimentação foram as chamadas “obras de campanha”, realizadas em tempos de eleições como uma verdadeira operação relâmpago o que resultou no agravamento das tragédias. Até os dias de hoje, apesar de diversas gestões diferentes,a Prefeitura de São Gonçalo nunca investiu em obras de infraestrutura que mudasse essa realidade.