O que esperam os moradores do Jardim Catarina para 2025?
Esperança, amor e oportunidades. De maneira indireta ou direta, esses foram os sentimentos que moradores e moradoras mais expressaram .

Uns nasceram e foram criados no território, outros já vieram com uma certa idade, mas todos querem ficar e sonham com um bom 2025 para o JC
Por Samara Oliveira, jornalista favelada do Jardim Catarina
Esperança, amor e oportunidades. De maneira indireta ou direta, esses foram os sentimentos que moradores e moradoras mais expressaram diante da pergunta: “O que você deseja para o Jardim Catarina neste 2025?”.
Nazaré Cabral, 50 anos, Agente de Saúde e moradora do Jardim Catarina há 27 anos, conta com emoção: “Foi o amor que me trouxe aqui.” Após enfrentar um relacionamento abusivo, Nazaré conheceu o atual marido quando já tinha perdido a esperança de viver um bom relacionamento. Hoje, casada e mãe de dois filhos, Nazaré conta que o Jardim Catarina transformou completamente sua vida. Foi nesse território que, grávida de sua segunda filha, fruto do novo relacionamento, ela se tornou Agente de Saúde.
Desde então, Nazaré – ou Naza, como é carinhosamente chamada – atua na Unidade de Saúde da Família I, onde é uma das funcionárias mais antigas e, inspirada pela esperança que guiou sua própria trajetória, busca transmitir o mesmo sentimento aos moradores do território.
“Desejo que o povo volte a ter esperança. A população perdeu isso, e quando você perde a esperança, também perde a vontade de lutar. Precisamos de esperança para continuar lutando por um mundo melhor.”
A artesã autônoma Regina Ianino, de 63 anos, veio para o Jardim Catarina no final da década de 1980 com seu marido em busca de melhores condições de vida. Para este novo ano, a artesã deseja que o bairro tenha mais oportunidades para os autônomos através de feiras promovidas pelo poder público. Além disso, Regina também desejou mais fé para os moradores.
“Aqui tem muita gente que é capaz, mas temos que perseverar. Falta às pessoas colocar mais fé em si mesmas”, afirma.
Falando em fé, foi cantarolando a música “Ogum”, interpretada por Zeca Pagodinho, que Américo Pereira, mais conhecido como Quinho, recebeu a equipe do O Catarinão no terraço de sua casa, lugar onde mantém um pequeno templo com uma estátua do guerreiro.
Quinho chegou no Catarina na época da final da Copa de 70, com 10 anos, e lembra do Jardim Catarina como um paraíso, apesar dos desafios do bairro. Na época, um território repleto de árvores frutíferas e rios, Quinho lembra de uma infância em que “ninguém passava fome”. Quando adulto, escolheu permanecer no Catarina e criar raízes. Casado, com quatro filhos e seis netos, Quinho, que não aparenta seus 62 anos, já vai ser bisavô.
“O que me fez ficar foi o povo do Jardim Catarina, que é um povo acolhedor, que te abraça. Eu tenho uma paixão enorme por esse lugar. Enquanto alguns querem ir embora, eu quero permanecer. Eu fundei uma escola de samba aqui”, conta com orgulho. Ele é um dos fundadores da Escola de Samba Boêmios do Jardim Catarina, que se consagrou campeã no Carnaval gonçalense em 2014.
A reflexão de Quinho para o ano de 2025 no Jardim Catarina é sobre segurança pública no Estado do Rio de Janeiro como um todo. Para o território que chama de casa, ele afirma: “Saneamento básico e saúde são questões muito deficitárias aqui. São os (serviços) principais que o Estado e município deveriam fazer e não estão fazendo.”
Mayra Azevedo, estudante de 19 anos e moradora do Jardim Catarina desde que nasceu, mesmo sem conhecer Quinho, apontou as mesmas questões. “Como, num lugar tão grande e conhecido como esse, você não encontra saneamento básico em certas localidades?”, indaga. Mayra também fala sobre a falta de eventos culturais, mas afirma que ama morar no território e cita a coletividade dos moradores como algo que continua a desejar para 2025. Como exemplo, ela comenta sobre um comportamento cultural dos vizinhos: “Eu amo a distribuição de manga. Todo tempo que tem manga nessa rua, alguém vai te trazer. Se você não tem, você ganha. E se você tem, você distribui”.
Apesar dos desafios com a infraestrutura que ainda afetam o Jardim Catarina, os moradores demonstram como o amor pelo território ainda os faz ter esperança de um bom 2025.