Não somos os primeiros: o legado de Marcos Delfim

Tio Manél, como também era conhecido, foi o primeiro do Jardim Catarina a produzir um jornal local .

Atualizado em 19/05/2025 às 18:05, por Samara Oliveira.

Não somos os primeiros: o legado de Marcos Delfim

Tio Manél ou Marcos Delfim, como também era conhecido, foi o primeiro jornalista do Jardim Catarina a produzir um jornal local

Por Samara Oliveira, jornalista favelada do Jardim Catarina

O ano era 1990 quando Manuel Afonso, morador do Jardim Catarina desde do final da década de 60 lançava o jornal chamado “A Folha Popular – o jornal do maior bairro da América Latina”. É importante esclarecer que, na verdade não somos o maior bairro da América Latina como caiu na boca do povo e sim o maior loteamento. Mas isso é papo para depois.

Ao andar pelas ruas do Jardim Catarina distribuindo a primeira edição do O CATARINÃO a maioria dos moradores, mesmo que não tenhamos falado sobre o assunto, nos abordaram relembrando o trabalho do “Tio Manel” com A Folha Popular. Conhecido também pelo seu nome artístico, Marcos Delfim foi lembrado com carinho, respeito e admiração pelo trabalho realizado e os moradores mostraram empolgação com o surgimento de um novo veículo de comunicação no Catarina.

Tive a alegria de conversar com esses moradores, compartilhando o mesmo orgulho e entusiasmo, pois Marcos Delfim era meu tio-avô. Natural de Itapeba, em Maricá, Marcos Delfim chegou no Jardim Catarina já jovem. Nas ruas do Ponto Final, na Ipuca, ele era bem conhecido e lembrado especialmente pelas crianças de então – hoje, já adultos.

Eu sempre tive muito viva na minha memória o dia que o aniversário de 15 anos da minha irmã Synara saiu no jornal. Mesmo que eu não tivesse mais o jornal em mãos — mas também tinha esperanças que minha família tivesse guardado —eu lembrava exatamente qual foi a foto de Synara que foi usada no jornal. Na época, eu tinha 13 anos e ainda nem pensava em ser jornalista também. E sim, minha mãe sempre guardou o jornal, que depois deixou com minha irmã para ela guardar. A coluna “Aqui entre nós”, onde saiu a festa de 15 anos de Synara, era um espaço onde aparentemente tio Marcos Delfim usava para falar de familiares e amigos próximos. Além de deixar também seus poemas e sambas, já que além de jornalista era poeta e compositor.

Tio Marcos Delfim morreu aos “60 e poucos anos” por complicações causadas pela diabete, mas lembro do seu jeito carinhoso de tratar a mim e meus irmãos. É uma honra hoje poder dar continuidade a este trabalho que não foi planejado desde sempre, mas com certeza traçado no meu destino antes mesmo de vir ao mundo.