Lona Cultural Lídia Maria da Silva: herança de cultura
Equipamento público de cultura do Catarina tem grande importância na história do bairro e das pessoas que vivem nele Gabriela Marinho, jornalista, artista plástica e cria do Jardim Catarina Nosso bairro tem muitas histórias, quase todas elas vêm carregadas de personagens.

Equipamento público de cultura do Catarina tem grande importância na história do bairro e das pessoas que vivem nele
Gabriela Marinho, jornalista, artista plástica e cria do Jardim Catarina
Nosso bairro tem muitas histórias, quase todas elas vêm carregadas de personagens. Às vezes são nossos vizinhos, familiares ou apenas pessoas que vimos passar um dia pela rua. Em alguns casos, os personagens são lugares, sempre memoráveis, que todo mundo já ouviu falar. Você já ouviu falar sobre a Lona Cultural do Jardim Catarina?
Diante de uma imensidão de ruas e quadras que apesar de parecidas se mostram únicas, a Lona Cultural Lídia Maria da Silva é o centro e o único equipamento público de cultura do Jardim Catarina. “A praça da Lona, em frente ao posto de saúde” é onde todo mundo passa pelo menos uma vez na semana, é onde as crianças e os adolescentes decidem gastar energia depois da escola, onde rola batalha de rima, onde os mais velhos sentam para esperar o ônibus e onde, no Carnaval, todo mundo decide se encontrar.
Fundada em 2003, é um espaço dedicado à promoção da cultura que em sua estrutura física lembra um circo, com direito a arena circular, palco e camarim. A Lona é um lugar de encontros e foi lá que muitas crianças e adolescentes puderam encontrar diferentes formas de fazer arte. É lá que o universo do circo, do teatro, da dança e da cultura afro-brasileira foram apresentados a milhares de crianças nesses 20 anos de existência.
Eu fui uma dessas crianças e posso dizer que se não fosse aquele espaço, minha forma de enxergar o mundo seria outra. Foi lá que descobri quem é e a importância do Palhaço Carequinha, foi lá que vi as palhaçadas do Pic Caramelo, que tive aulas de circo com o Mágico Patrick.
Patrick é um desses personagens que se mantém em atividade desde a fundação do espaço. Conversamos sobre a sua trajetória e como ela se entrelaça com a Lona Cultural.
“Nunca pensei em ser mágico ou artista, mas em 92 eu participei de um grupo jovem da Igreja Santa Catarina Labore e lá fizemos uma festa para as crianças. Por conta da ausência de um palhaço que faria uma apresentação e faltou, meus amigos da época me convocaram para ocupar esse lugar. Eu topei, pus as roupas e brinquei com a criançada. Depois disso, nunca mais parei.” afirma o artista, que atua na Lona Cultural desde de 2004.
A Lona Cultural Lídia Maria da Silva já recebeu shows de diferentes artistas, como o cantor Leony, o Grupo 14 Bis, o humorista Paulinho Gogó, o rapper Sant, o cantor Anchieta, vocalista do grupo Os Garotin, entre outros.
Lídia Maria da Silva mantém vivo o seu legado
Uma personagem essencial e que não podemos esquecer é a artista e articuladora cultural que dá nome a Lona Cultural: Lídia Maria da Silva.
Mulher preta e moradora do bairro, ela foi uma das primeiras lideranças do Grupo de Consciência Negra do Jardim Catarina. Movimentando debates e estratégias contra o racismo e a desigualdade social no bairro. Sua irmã, a mestra de capoeira Lilla, Lilian Cristina, conta um pouco mais sobre a importância da irmã.
‘’A partir dela todos os irmãos e amigos começaram a se interessar em colaborar. Depois disso, formamos a banda afro Congo Brazzaville, nome dado em homenagem a um país africano chamado hoje de República do Congo. Ela era a vocalista da banda, nos apresentamos em muitos lugares dentro e fora do Jardim Catarina’’ lembra.
O legado de Lídia foi compartilhado e é levado para os quatro cantos do mundo através de Lilla. Com a capoeira, ela dá aulas sobre a vida.
‘’Eu comecei a praticar capoeira no dia 14 de janeiro de 1984 através de uma amiga de infância. Na época em que comecei a trabalhar na Lona Cultural do Jardim Catarina, em 2005, eu tinha acabado de ser formada contramestre de capoeira. Recebi o convite do Patrick, o Mágico para fazer parte do grupo de professores. Me sinto muito orgulhosa em saber que de algum modo eu consegui transformar a forma de algumas crianças verem o mundo” afirma a professora que recentemente esteve na Alemanha compartilhando seus conhecimentos.
A Lona Cultural Lídia Maria da Silva é comprovadamente um espaço de transformação e tem grande importância na história não só do bairro, mas também das pessoas que vivem nele. É um espaço que pulsa vida e que precisa estar vivo. É um lugar necessário na nossa comunidade para que novas memórias sejam lembradas.